Mamã, acreditas em Deus? | Estória para não embalar


Traduzido para francês e publicado na revista Noir & Blanc (2007).
Publicado no livro Pour une poignées de rêves pela editora L'ivre-Book (2013)


MAMÃ, ACREDITAS EM DEUS?

Por Jo Ann von Haff




— Mamã, mamã!
— Sim, filha?
— Acreditas em Deus?

Parei de despejar as amendôas na base da tarte para olhar para a minha filha de sete anos. Ela observa-me com os seus olhos, grandes e castanhos, com um ar sério. Muito sério.

— Sim, filha, acredito em Deus.

Ela pára para pensar. Despacho-me com a tarte e ponho-na no forno.

— Porque me fazes a pergunta? – quis saber.

Ela encolheu os ombros. Se há algo que aprendi com a minha filha, é que nada é gratuito. Ela nunca faz perguntas por obra do Espírito Santo. Encho a panela de água.

— O que te preocupa?
— Porquê que acreditas em Deus?

Bem! Nunca me fiz tal pergunta. Acredito, simples quanto isso.

— É um sentimento que vem de dentro. – expliquei desajeitadamente.
— Mas tu não O vês.
— É o que se chama fé. Não vês Deus, mas sabes que Ele está aqui.
— Ele está aqui agora?
— Todos os segundos. Ele está por toda a parte.
— Ele ama-nos?
— Sim. Somos filhas Dele. Ele ama-no como eu te amo.

Adivinhei que as perguntas não parariam por aí...

— Deus é poderoso?
— Sim. Ele dá a vida. Cria. Cura. Salva.
— Mas Ele não salvou o papá.

Tive a sensação de ter levado um murro.

— Se Deus existe, porque foi que o papá morreu?

Como responder? Como explicar à minha linda filha que foi um golpe do destino? Um acidente? Se Deus existe, porque destruiu Ele a nossa família? Porque deixou Ele uma orfã? Porque tirou Ele um homem que tinha ainda tanto para dar? Porque...? Não. Essas perguntas não eram dela, eram as minhas. Perguntas que continuavam sem respostas até para mim.

— Hã, mamã? Como podes acreditar em Deus e Ele tirou-nos o papá ?

Sentei-me e pûs a minha filha no colo.

— Sabes, filha, é porque acredito em Deus que sei que o papá está bem. É porque acredito nEle que sei que um dia, Ele secará as minhas lágrimas, curará as minhas feridas. O papá agora é um anjo e estará sempre contigo. Sempre. Podes falar com ele. Ele vai ouvir-te, ele vai proteger-te. Ele estará sempre contigo e sentirás isso no teu coração.

Ela abanou a cabeça e pôs o polegar na boca. Fiz festas no cabelo dela.

— Amanhã, o sol vai levantar-se de novo e vai brilhar. E se chover, vai criar um arco-íris. A vidé é como uma bicicleta: podes caír várias vezes, mas vais levantar-te a cada vez e vais voltar a fazer bicicleta. Lembra-te que o teu caminho é para frente, sempre, nunca para trás.

Abracei-a, de coração partido.

— Lembras-te dos eclipses?
— Quando o Sol desaparece durante o dia.
— Exacto. Quando estás triste, é como um eclipse. A alegria, a saúde, o amor, a felicidade..., todas as boas coisas voltam com o Sol. Um eclipse nunca dura.