Lembro-me de cada segundo do nascimento da Maria, e cada segundo desde esse dia. Lembro-me do cheiro de algodão, do seu calor contra o meu peito. Maria tinha o cabelo encaracolado, parecia cobre; a pele dela parecia caramelo. Maria era a vitória contre uma sociedade que antes me rejeitara. Maria. Menina linda, generosa, obediente, alegria dos pais dela. Até hoje. Estou furiosa. Aperto os punhos e bato as minhas pernas, esperando, em vão, poder me calmar. Mas é impossível. Não consigo. Depois dessa humiliação? Impossível! Eu e Maria estávamos entusiastas com a idea de mudar de casa, com essa nova vida. Mas essa cena, a frente do novo liceu... Ela conversava com os novos colegas. Aproximei-me lentamente para não me impôr, mas foi o suficiente para ouvir as palavras dela. Palavras que até agora me enojam, que me dão raiva. Não, raiva não. Estou triste. Profundamente triste pela luz dos meus dias, pelo fruto do meu ventre. Maria não olha para mim. Os olhos baixos, ela olha